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Temer diz que só mulher é capaz de indicar 'desajustes' de preço no supermercado
No mesmo discurso, em ato sobre Dia da Mulher, presidente disse que mulher é tratada como 'figura de segundo grau' e que, sociedade "vai bem" quando pessoas têm boa formação em casa.

O presidente Michel Temer afirmou nesta quarta-feira (8), em discurso no Palácio do Planalto, que somente a mulher é capaz de indicar "desajustes" de preços no supermercado.

No mesmo discurso, Temer disse que a mulher ainda é tratada como "figura de segundo grau" no Brasil e que, se a sociedade "vai bem", é porque as pessoas tiveram boa formação em casa, e "quem faz isso é a mulher".

Temer deu as declarações durante evento em homenagem ao Dia Internacional da Mulher no qual o governo anunciou medidas para humanizar o parto normal e reduzir intervenções consideradas desnecessárias.

Ao citar a participação feminina em movimentos sociais e no Congresso Nacional, Temer afirmou que as mulheres deram ao longo do tempo "colaboração extraordinária" ao Brasil. Foi, então, que ele disse que na economia a mulher também tem "grande participação", porque "ninguém mais é capaz de indicar os desajustes de preços no supermercado do que a mulher."
Para o presidente "ninguém é capaz de melhor detectar as eventuais flutuações econômicas que a mulher, pelo orçamento doméstico maior ou menor"
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Em outro trecho, Temer também disse: "Aqui no Brasil e ainda em outras partes do mundo, a mulher ainda é tratada como se fosse uma figura de segundo grau, quando na verdade ela ocupa o primeiro grau em todas as sociedades."

Mais cedo, nesta quarta, o presidente já havia divulgado um vídeo sobre o Dia da Mulher nas redes sociais no qual afirmava que a "preocupação com a posição da mulher" na sociedade deve ser constante.

Acompanhado da primeira-dama, Marcela Temer, o presidente também afirmou no evento desta quarta no Planalto que, se a sociedade "vai bem", é porque as pessoas tiveram uma formação adequada em casa, e "isto quem faz não é o homem, quem faz é a mulher".

Aliados defendem Temer

Após o evento, a secretária nacional de Políticas para as Mulheres, Fátima Pelaes, foi questionada sobre se as declarações do presidente haviam sido, na avaliação dela, machistas. Fátima, então, disse que não.

Para a secretária, o presidente somente fez uma referência à jornada doméstica e profissional vivida pela mulher atualmente.

A secretária defendeu a trajetória de Temer como o responsável pela criação da delegacia da mulher e disse que é preciso analisar as atitudes dele, não as falas separadamente.

Também nesta quarta, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi questionado sobre as declarações. Para ele, Temer "estava, possivelmente, constatando um fato".

"Foi uma declaração onde ele estava, possivelmente, constatando um fato, digamos, da realidade pelo número de pessoas que frequentam o supermercado. Eu não vi a declaração do presidente, então, não posso comentar", disse.

O ex-presidente do Congresso Nacional e atual líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), avaliou que a fala de Temer "não foi feliz", mas completou:

Reação na Câmara

A fala de Temer gerou debate no plenário da Câmara. Em discurso em homenagem às mulheres, o deputado Marco Maia (PT-RS) criticou a declaração do presidente, argumentando que as mulheres cumprem papel importante. Para ele, o peemedebista atribuiu à mulher "um papel reduzido na sociedade".

A afirmação foi logo rebatida pela deputada Shéridan (PSDB-RR). "Me estranha muito um homem vir falar de papel de dona de casa. Reduzido por que? Dona de casa se reduz a que?", questionou. "Muito me impressiona vossa excelência se reportar a uma condição de inferioridade da mulher por ela ser dona de casa", acrescentou.

A mulher no mercado de trabalho

Durante o discurso, Temer afirmou ainda que, atualmente, homens e mulheres são "igualmente empregados, [ainda que] com algumas restrições". No entanto, para o presidente, mesmo com essas "restrições", "a gente vê como a mulher ocupa espaço executivo de grande relevância".

Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, as mulheres trabalham, em média, 7,5 horas a mais que os homens por semana.

A pesquisa Catho, porém, que avalia 8 funções, de estagiários a gerentes, aponta que as mulheres ganham menos do que os homens em todos os cargos. A maior diferença é no cargo de consultor, no qual os homens ganham 62,5% a mais do que as mulheres.

Presença feminina na política

Ao afirmar que homens e mulheres têm deveres e direitos iguais, Temer ressaltou a presença feminina no Congresso Nacional.

Na formação atual, contudo, somente 55 dos 513 deputados são mulheres (10,7%). No Senado, o percentual é um pouco maior. Dos 81 senadores, 12 são mulheres, o que representa 14,8%.

Para mudar esse cenário, tramitam atualmente no Congresso pelo menos cinco projetos que estabelecem número mínimo de parlamentares mulheres. Uma dessas propostas prevê, por exemplo, que pelo menos 30% dos deputados e 30% dos senadores devem ser mulheres.

A mulher no serviço público

Temer aproveitou o discurso do Dia da Mulher para "enfatizar" que a recessão econômica que o país enfrenta "está indo embora" e, com isso, o Brasil voltará a registrar crescimento.

Ao citar o cenário econômico, Temer, então, disse que com a retomada do crescimento será possível gerar emprego e, consequentemente, o mercado empregará mais mulheres.

Levantamento do G1 com base em dados fornecidos pelo governo, pelo Congresso e pelos tribunais superiores mostra que as mulheres não são metade dos servidores.

Proporcionalmente, o Judiciário é o poder que mais emprega mulheres (49,5%), enquanto o Executivo e o Legislativo não chegam a ter 45% de servidoras.

Marcela Temer

Na cerimônia desta quarta, a primeira-dama, Marcela Temer, fez um breve discurso, no qual pediu à sociedade reconheça os "vários papéis" que as mulheres exercem e o estilo de vida escolhido por cada uma.

A primeira-dama ainda fez uma referência às mulheres que criam os filhos sozinhas. "Ainda temos muitas lutas para vencer. Devemos acabar com a intolerância que afunda a rotina de muitas mulheres vítimas da violência, física, sexual e psicológica. Vamos vencer essa batalha que fará de todos nós seres humanos melhores."

Do G1 - * Colaboraram Fernanda Calgaro e Bernardo Caram, G1, Brasília

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