O Maranhão de Verdade no ponto de vista de Roseana e de Flávio Dino
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Dois artigos com o mesmo título
“O Maranhão de Verdade”, porém,
escritos por autores que são adversários políticos ferrenhos. O primeiro foi escrito
pela governadora Roseana Sarney (PMDB) e publicado no dia 12 do corrente, no
Jornal A Folha de S. Paulo; o outro, como uma resposta, foi escrito pelo
presidente da EMBRATUR, Flávio Dino (PCdoB) e publicado ontem, dia 19, no
Jornal O Estado de São Paulo. Esses dois artigos bem antagônicos, tiveram
grande repercussão no estado e fora dele, haja vista que foram publicados em
dois grandes jornais de circulação nacional. O Blog do Carlinhos está
disponibilizando ambos os textos para análise de seus leitores.
Continua com os artigos...
O Maranhão de verdade
Roseana Sarney
Governadora do Maranhão
Os brasileiros conhecem a
realidade do sistema carcerário nacional. Rebeliões e violência ocorrem,
infelizmente, em vários presídios de diversos estados.
São muitas as causas dos
problemas do sistema prisional, alguns dos quais acabam por agredir de forma
dramática a paz e a tranquilidade da família brasileira. Os Estados, sem
exceção, sofrem com um modelo centralizador e burocrático.
Além disso, a vinculação de
recursos orçamentários restringe a distribuição equilibrada da receita corrente
líquida para atender às demandas setoriais. Em média, no país, o gasto com
pessoal está em torno de 45% do orçamento; a educação fica com 25%; saúde, com
12%; o pagamento da dívida, com 13%.
Somados, esses percentuais
alcançam 95% da receita estadual. Sobram apenas 5% para outras obrigações, como
custeio da máquina, segurança pública, infraestrutura, programas sociais,
agricultura etc.
Para piorar, temos o
problema das drogas, que é a principal causa da violência: para financiar o
tráfico e o consumo, mata-se e rouba-se.
O Maranhão nunca teve
tradição de violência. Quando deixei o governo em 2002, éramos o estado menos
violento do país. A expansão do crime organizado pelo território nacional,
apoiado na exploração do tráfico de drogas, criou conexões entre gangues e
grupos criminosos, espalhando pelo país o padrão de violência que vemos hoje.
Os indicadores do Maranhão
avançam. Hoje, somos o 16° PIB brasileiro; em 2011, último dado do IBGE, o PIB
real cresceu 10,3%, enquanto o PIB do Brasil ficou em 2,7%; fomos o primeiro no
Nordeste e o quinto no país; a renda per capita alcançou R$ 7.852,71.
Investimentos públicos e privados estão mudando a economia maranhense.
Na educação, a média das
escolas foi elevada de 478,75, em 2011, para 481,37 em 2012, segundo dados do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com o resultado, o Maranhão subiu três
posições no ranking do Enem.
Estamos executando um dos
maiores programas de saúde no Brasil, com a construção de 10 unidades de pronto
atendimento e 72 hospitais. Novas adutoras, redes de distribuição e estações de
tratamento estão sendo implantadas para aumentar a cobertura da população em
saneamento básico.
Na segurança pública, com
recursos próprios, são R$ 131 milhões para construção de sete novos presídios,
recuperação e reaparelhamento do sistema carcerário, compra de armamento,
veículos, detectores de metal, esteiras de raio-X e estações de rádio. Até o
dia 15 de fevereiro, 2.401 novos policiais aumentarão o nosso contingente. Até
agora, 418 vagas foram criadas nos presídios maranhenses. Esse número será
duplicado nos próximos seis meses.
Não aceito e não compactuo
com a violência. O respeito aos direitos humanos e à integridade física dos
cidadãos está acima de tudo. Nenhum órgão de defesa do cidadão apresentou
denúncia de ameaça a familiares de presos.
O que se passou em Pedrinhas
é ato de selvageria e barbárie. Determinei rigorosa apuração dos fatos e
punição exemplar aos responsáveis. A morte da menina Ana Clara, de seis anos,
ficará em nossas lembranças para sempre.
Somente com a união do
Executivo, Legislativo, Judiciário, Defensoria Pública e Ministério Público
será possível vencer essa dura batalha. Na última quinta-feira (dia 9), recebi
o ministro da Justiça e representantes dos três Poderes.
Já iniciamos um grande plano
de ação com 11 itens que contemplam medidas como o mutirão das defensorias,
transferências de presos e núcleos de atendimento, além de capacitação
policial. São medidas que solucionarão o problema carcerário do estado.
Somos um estado de povo
trabalhador, que tem orgulho de sua terra e de sua tradição. Com o nosso
esforço e a ajuda de todos, vamos vencer essas dificuldades.
(Artigo publicado no jornal
Folha de S.Paulo, edição do dia 12 de janeiro de 2014).
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Flávio
Dino: O Maranhão de verdade
![]() |
Flávio Dino |
Em artigo nesta Folha, a
governadora Roseana Sarney sustenta que o Maranhão é um Estado rico e que vai
muito bem ("O Maranhão de verdade", 12/1).
De fato, o Maranhão tem
muitas riquezas, mas isso não se reflete na qualidade de vida de grande parte
da população, como revelam os indicadores sociais do nosso Estado.
Esse é o paradoxo maranhense
que a crise na segurança pública sublinhou para todo o Brasil.
Temos um extenso território
cortado por ferrovias e rodovias. Diferentemente de outros Estados do Nordeste,
há água abundante em rios e lagos. Nosso litoral é o segundo maior do Brasil,
propício à pesca em grande escala.
O complexo portuário
maranhense está localizado próximo aos principais mercados consumidores do
mundo, o que aumenta a sua competitividade. A agricultura e a pecuária são
intensamente exploradas em nossas terras.
Nosso potencial para o
turismo é reconhecido por todos, por exemplo com a beleza única dos Lençóis
Maranhenses. Somos a terra de Gonçalves Dias, Ferreira Gullar, Nauro Machado e
Zeca Baleiro, do bumba meu boi e de centenas de outros valiosos grupos
culturais.
No entanto, o Maranhão
frequenta assiduamente as piores posições em todos os rankings de medição da
qualidade de vida. Os maranhenses são atendidos pelo menor número de médicos e
de policiais por habitante do país.
Entre 2009 e 2013, o
Maranhão seguiu o caminho inverso do Brasil no quesito educação. O número de
analfabetos cresceu no Estado, passando de 19% dos maiores de 15 anos para
20,8% nessa faixa etária.
Essas contradições entre o
potencial riquíssimo e a pobreza abundante é o triste retrato do Maranhão de
verdade. Após 50 anos de mando, os que estão no topo desse regime estão
desorientados e descolados da realidade.
Nada mais revelador do que o
governo do Estado comprar toneladas de lagostas, camarões e caviar,
complementadas por champanhes e uísques importados, para o consumo dos altos
escalões do poder enquanto bárbaras cenas nos presídios maranhenses são
veiculadas pelo mundo inteiro e as famílias ainda choram por seus parentes.
É fundamental compreender
que há direta conexão entre os problemas sociais e a configuração da política
maranhense. O patrimonialismo praticado no Maranhão é o mais exacerbado da
história brasileira.
Isso faz com que os recursos
públicos sejam direcionados visando, acima de tudo, à acumulação privada de
bens, e essa é a causa principal para que tantas riquezas não se traduzam em
serviços públicos minimamente razoáveis.
Essa terrível crise do
sistema penitenciário mostra que é urgente virar essa página em nosso Estado,
assegurando a igualdade de todos perante a lei, o primado dos direitos
fundamentais e a honesta aplicação do dinheiro público. Os valores da República
precisam chegar ao Maranhão para que o nosso povo seja rico de verdade. Essa é
uma causa que interessa a todo o Brasil.
FLÁVIO DINO, 45, ex-deputado
federal (PC do B-MA) e ex-juiz federal, é presidente da Embratur (Instituto
Brasileiro de Turismo)
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Lembrou de grande nomes da cultura do Maranhão. Inicialmente, lembrou do Ilustre Gonçalves Dias e fez justiça com ele e os demais. Esqueceu de um imortal da história da cultura e da MPB, Cantor, Compositor e Poeta o gigante JOÃO DO VALE, filho ilustre de Pedreiras, do Maranhão e do Brasil que brilhou e foi reconhecido em nível nacional. JOÃO CADÊ VOCÊ JOÃO.... JOÃO, VALE MAIS O TEU CANTAR!!!!
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