Uma breve reflexão sobre a valorização salarial dos professores de Barra do Corda
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“O que nos aguardará? O
texto é grande, mas vale ler e compartilhar, se você concordar com o que está
escrito. Apenas a título de esclarecimento: não pertenço a grupo político
algum, o texto apenas expressa minha insatisfação e incômodo com o que, abaixo,
relatarei”, o autor.
Cerca de 800 professores de
Barra do Corda reunido em um evento pedagógico
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QUE SERÁ DO NOSSO FUTURO?
Em um país como o Brasil,
eternamente considerado “pais do futuro”, já se tornou um truísmo alardear a
Educação como sendo a solução para tudo: justiça social, desenvolvimento
econômico, solução da violência, melhoria dos indicadores da saúde e, em geral,
dos números do IDH. Por que será? – a resposta é muito simples: apenas porque é
verdade! Assim, quando almejam a simpatia popular, nossos representantes
políticos são céleres em colocar como principal bandeira de campanha o compromisso
com um sistema educacional de qualidade. Este discurso bonito – de fácil
absorção – é exaustivamente repetido em todas as esferas: municipal, estadual e
federal. Contudo, é importante refletirmos de maneira fria sobre os fatos. Neste
momento, quero, especialmente, falar da realidade do município em que hoje
resido: Barra do Corda.
Nossa cidade é linda, com
paisagens fantásticas e um potencial de desenvolvimento econômico, em vários
setores, realmente notável. A população estimada para 2015 de pouco mais de 86
mil pessoas (segundo IBGE), em boa parte, composta por crianças e adolescentes
(idade escolar) e jovens que buscam o acesso ao ensino superior, realidade de
outros municípios também. A atual administração municipal, que pertence a um
grupo político diferente do que a antecedeu, ascendeu ao poder com um discurso
de renovação, compromisso com o povo, de oxigenar a vida barra-cordense e...de
cuidar da Educação.
O prefeito anterior, no
ocaso de sua gestão, em 2012, lançou edital para concurso público direcionado
ao município, sendo a Educação uma das áreas contempladas. Naturalmente, o
atual prefeito – de maneira, a priori, aparentemente responsável – não realizou
o certame de forma imediata, dada a necessidade de avaliar questões
administrativas, orçamentárias, legais etc. No fim de 2014, após muita pressão
popular, audiências na câmara e cobranças por parte do MP, a prefeitura
anunciou a realização do pleito: EUFORIA GERAL! – seria a chance para muitos
que, há tempos, acalantavam o “sonho” do serviço público, particularmente, o
magistério no município.
Continua...
A 25 de Janeiro de 2015,
realizaram-se as provas, que transcorreram dentro de toda a normalidade
possível e os passos foram sendo dados – cambaleantes – rumo ao cumprimento do
que determinava o “documento-norte” do concurso. Aqui e ali algum
escamoteamento de informações... datas não cumpridas... dizia-se que os novos
concursados deveriam iniciar o semestre em sala de aula. E iniciaram – porém, o
segundo semestre! A posse ocorreu apenas no dia 26 de junho de 2015 e o
exercício efetivo no início de agosto. Até então, imaginava-se que esses
adiamentos eram fruto das situações burocráticas subjacentes ao serviço
público...e as coisas foram andando.
Um mês após o início das
aulas, o sentimento de desânimo e incerteza era geral nos recém-concursados e
as perguntas, naturais: quanto iremos ganhar? Quando sairá nosso salário? – Eis
que a demora no pagamento começou a dar margens a boatos que, cada vez mais,
foram ganhando corpo... “A prefeitura não pagará o salário aos recém-concursados
respeitando o princípio da isonomia salarial!” Esse disse-me-disse foi ganhando
corpo, até que, 45 dias após estarem trabalhando, os docentes tiveram a “grata”
surpresa de verificar em seus proventos um “fabuloso” montante de R$1.005,00,
enquanto esperavam, pelo menos, mais que o dobro disso.
Conversando com os
professores do município, ouço que a realidade de seu trabalho é demasiadamente
dura. Escolas com infraestrutura aquém do necessário ao bom desempenho das
atividades (docentes e discentes); os mestres ministram aulas em disciplinas
que não têm formação; alunos com déficit de aprendizagem, indisciplina... os
problemas que conhecemos bem e que – sejamos justos – não são uma
especificidade local. A grande questão que se coloca é: se o salário dos
docentes, de maneira geral, já não remunera o que e como deveria, que se deve
dizer do não pagamento correto dos novos docentes, considerando a isonomia
salarial?
Um grupo de professores se
dirigiu ao setor de recursos humanos da prefeitura, para buscar informações e
um documento simples: seu contracheque. O resultado... bem, foi muito
preocupante, pois o funcionário afirmou, sobre o holerite, que não poderia
fornecer aos servidores. Em relação ao valor do salário – o mais grave –
afirmou, de forma categórica e veemente – que este era o real valor, com o
montante correto do vencimento-base, já acrescido da devida gratificação.
Como o servidor que os
atendeu, certamente, é apenas mais um cumpridor de ordens, que se lhe dê as
devidas vênias. No entanto, é necessário que se consulte a Lei Municipal Nº
005/2011 (Dispõe sobre o Plano de Carreiras, Cargos e Remuneração do Magistério
Público Municipal e dá outras providências), para a expressão de um
posicionamento com fundamento legal. O que ela diz? – vamos pegar como exemplo
um professor concursado graduado. No artigo 44º, temos o seguinte: “O plano de
Remuneração dos integrantes dos Cargos de Magistério Municipal constituir–se-á
de Vencimento Base, Gratificação de Atividade de Magistério (GAM), Adicional de
Anuidade e Gratificação por Especialização.”. Vamos excetuar adicional de
anuidade (pois acabaram de entrar) e gratificação por especialização (outra
questão muito discutível...mas para outro momento). Continuemos... No inciso I,
temos que “Por Vencimento Base deve-se entender a parcela fixa definida nesta
Lei conforme as seguintes especificações: a) Fica definido o percentual de no
mínimo 50% do Piso Salarial Profissional Nacional para o Vencimento Base do
Professor, Nível I com Formação para o Magistério, tendo em conta o exercício
de jornada de 20 horas semanais. b) Fica definido o percentual de no mínimo 60%
do Piso Salarial Profissional Nacional para o Vencimento Base dos demais
Níveis.” . No Inciso II – “Por Gratificação de Atividade de Magistério – GAM,
deve-se entender, o percentual definido em Lei Federal incidente sobre o
Vencimento Base do professor (Lei,Nº11.494/2007)”. Segundo o Artigo 45º, que
contém o Plano de Remuneração do Magistério obedecerá e tabela/especifica seus
percentuais, o professor graduado receberá: No mínimo 60% do Piso Salarial
Profissional Nacional + 90% (GAM) – lembrando estarmos deixando de fora os
anuênios e outras gratificações.
Em números atuais
(arredondados, para facilitar os cálculos), a operação correta seria: 60% DO
VALOR ATUAL DO PISO (60% DE R$1.917,00 = R$1.150,20) + (90% DE R$1.150,20, A
TÍTULO DE GAM = R$1.035,18), totalizando o bruto de R$2.185,38.
Como a administração chegou
a R$1.005,00? Considerando a “interpretação” que a gestão municipal fez da
referida lei, para este montante, o vencimento-base do servidor deveria ser de
pouco mais de R$470,00, contrariando a tabela que se encontra nos próprios
anexos da lei, tendo em vista que a mesma, elaborada em 2011, já previa um
vencimento-base no valor de R$653,38, acrescido de uma GAM de R$588,04, mais
1%, totalizando – DE ACORDO COM A TABELA DA LEI – R$ 1.247,57. REPITO: EM
2011!!!
Tenho uma leitura com
previsão extremamente sombria para nossa bela cidade. A administração que –
como resposta e este absurdo – coloca na TV a propaganda, que acabei de ver, da
Escola de Tempo Integral (para quê?), desrespeita os docentes do município – e
toda a classe docente da cidade. São nossos filhos, parentes, amigos, e é o
futuro do município que está sendo moldado por profissionais que – na prática,
ganham um salário de pouco mais de R$470,00, sem as condições adequadas de
trabalho.
De acordo com dados do IDEB
2013, houve uma queda da performance educacional do município, em relação à
meta estabelecida para sua evolução, considerando, inclusive, a evolução de
anos anteriores. Desta maneira, as perguntas são inevitáveis: é com este tipo
de política educacional que a prefeitura quer colocar Barra do Corda no caminho
da excelência? É assim que espera retomar o crescimento? Que tipo de
responsabilidade a atual Gestão demonstra com nosso futuro? Ficam no ar para
que venham as respostas daqueles que nos devem satisfações, pois são eleitos
por nós e nossos servidores. Fico aguardando.
Carlos Eduardo Penha Everton






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