A menor entre todos os candidatos

 Jerlândia da Hora

Conversei hoje, bem cedo, com a Jerlândia, sim, com essa jovem mulher que tem diuturnamente buscado sua eleição em Poção de Pedras, eu não diriam apenas com a cara e coragem, porque ela tem amigos que de um jeito ou de outro, lhe ajudam. Jerlândia tem o sonho de ser vereadora em Poção de Pedras, e antes disso, teremos a oportunidade de conhecer a tocante história de vida dessa mulher simples, nascida e criada dentro de nossas fronteiras.

Jerlândia conheceu todo tipo de adversidades e privações na vida. Filha de uma mulher deficiente física e de um homem que sofre transtornos mentais. Ela tem mais três irmãos, todos com deficiências físicas. Jerlândia foi a única da prole que não nasceu com problemas. Ela nos contou que para ajudar no sustento da família, pediu esmola até os dezoitos anos de idade.

 

- Não foi minha mãe que me pediu pra pedir esmola, nós simplesmente passamos fome e menina ainda peguei um saco e fui pedi comida nas casas! - contou - me ela sem demonstrar vergonha, e assim ela viveu toda sua infância e boa parte da juventude, esmolando pelas ruas de Poção de Pedras para ajudar no sustento de sua família.

Hoje, aos 32 anos, é casada há mais de uma década e tem três filhos. Eu a visitei em sua casa simples de barro no bairro da Vila Borges e perguntei-lhe logo se tinha profissão.

Jerlândia - Sou lavradora, mas eu não tenho trabalho certo, o meu marido é pescador. Vendo peixe também, Sou conhecida como peixeira. Sempre que tem peixe eu vendo! Hoje considero a minha profissão é de ajudar os outros.

Carlinhos - Como assim?

Jerlândia - Eu não queria ser vereadora, inclusive eu nem gostava muito de política. Mas de tanto levar minha família para o hospital, comecei a levar outras pessoas também, todos os dias! Era um trabalho que eu fazia direto, sempre. Levando doentes para o hospital de noite, de madrugada, sem reclamar. Ai as pessoas de lá, diziam: "Jerlandia porque tu não se candidata a vereadora, já que todos os dias tu tá aqui ajudando o povo?"

Carlinhos - E por que você fazia isso?

Jerlândia - Porque é a coisa certa e porque eu gosto e sempre gostei de ajudar as pessoas. Aqui em Poção de Pedras eu vivo pra ajudar as pessoas. Até pra Teresina e São Luís eu já fui com doente que não tinha acompanhante  e eu acompanhava. E nunca cobrei nada, fazia de coração. Essa história de ser candidata a vereadora nasceu com esse trabalho meu. As pessoas me diziam: "Jerlandia você tem que ser vereadora porque você é batalhadora"! Eu também ia ao Banco do Brasil ajudar os aposentados a sacar seus aposentos e onde eu estava nesse trabalho de ajudar as pessoas ouvia esse mesmo conselho: Você tem que ser vereadora. Fala isso porque sempre ajudei as pessoas e continuo ajudando!

Jerlândia - mostra os papelzinho que as
pessoas doam a ela para divulgar sua candidatura.

Carlinhos - Jerlândia, mas você está preparada para ser vereadora, você sabe das responsabilidades desse cargo?

Jerlândia (Fez uma pausa para pensar e depois com uma expressão séria, respondeu) - Eu tenho procurado me informar sobre o trabalho de um vereador, mas Carlinhos, eu sei o que é certo e o que é errado e eu sei que só tenho vontade de fazer as coisas certas.

Carlinhos - Como você está bancando essa tua campanha, Jerlândia?

Jerlândia - Sem dinheiro nenhum porque como você tá vendo, não tenho, mas recebo ajuda das pessoas.

Carlinhos - Você acha que consegue se eleger?

Jerlândia - Não sei, não. Eu não tenho condição e não tenho o que oferecer pra ninguém. Mas se conseguir pretendo fazer um trabalho bonito como vereadora e poder investir justamente na pobreza, porque eu sei onde o sapato aperta. Eu já sofri muito, passei fome, necessidades, eu pretendo chegar lá pra ajudar as pessoas pobres iguais a mim. Eu, quando era criança, aos 7 ano de idade comecei a pedir esmola. Nós morávamos num interior chamado Baixão do Galo, interior de Poção de  Pedras. quando chegamos aqui, nessa cidade, o meu pai adoeceu e ficou deficiente mental. E minha mãe, deficiente física, com mais três filhos deficientes físicos, nós não tínhamos o que comer. Minha mãe com todo sacrifício quebrava coco para comprar um quilo de farinha de puba pra dar pra gente. E foi então que vendo minha família passando fome e sendo eu a mais velha dos filho, me obriguei a pedi esmolas. Eu via a situação da minha mãe e sabia que ela precisava de mim. E eu pedi esmolas dos meus 7 aos meus 18 anos e só parei quando minha mãe e meu pai se aposentaram. Depois trabalhei nas casas alheias em muitas cidades. E depois conheci o homem que veio a ser o meu marido. Fui com ele embora pra São Paulo pra tentar melhorar de vida, mas lá sofri muito, também. Lá além da fome, passava frio por não ter onde morar. O dinheiro que o meu marido ganhava dava mal pra gente comer. Eu pra ajudar, vendia doces nos ônibus. Eu fiz tantas amizades em São Paulo que os motoristas nem cobrava nada de mim. Todos me conheciam. Mas o meu pai adoeceu e eu decidir voltar. Isso faz 7 anos e nunca mais sai daqui. E quando cheguei aqui, comecei esse trabalho de ajudar a pessoas, sem cobrar e sem me negar. Já tirei da minha boca pra ajudar outras pessoas. Fome eu passei e me acostumei com ela, mas não quero que ninguém sinta ela perto de mim que eu faço logo algo. Essas coisa eu faço de coração e me sinto em paz e bem com Deus! O senhor está vendo aqui a minha situação. Eu trabalho muito, corro muito e não tenho nada e nunca me reclamo. Eu tenho coração e tenho fé!

Carlinhos - Qual é o teu número mesmo?

Jerlândia - O meu número é 10147.

No dia da convenção Jerlândia entrou no meio dos figurões.
Jerlândia: "Eu sei o que é certo e o que é errado e tenho
apenas vontade de fazer a coisa certa!"

Carlinhos - E está animada com teu trabalho para ser vereadora?

Jerlândia - Muito, sou a Jerlândia da Hora, o 10147. Estou visitando todas as casas de Poção de Pedras, falando da minha proposta e pedindo votos. Vou lhe dar o meu cartaz. Eu tenho tido muito apoio. Nunca imaginei que receberia esses apoios. Têm pessoas que me deixam maravilhada com sua bondade. Eu acabei de receber 80 adesivos pra carros e motos que a mulher do Gilfran me mandou. Ela simplesmente mandou fazer e me doou. Ela não é um anjo? Muitas pessoas fazem esses papelzinho com o meu nome, números e me dão. As pessoas da Rua Grande me ajudam e hoje eu sei o quanto vale a amizade, eu já sabia, mas hoje eu sei o quanto vale mais ainda. PRA MIM AMIZADE NÃO TEM PREÇO.

Essa foi a conversa que tive com Jerlândia em sua casinha, lá na Vila Borges. 

Essa mulher é uma fortaleza. Com tanto sofrimento passado em sua existência, ela mostra equilíbrio, bondade no coração, e em nenhum momento demostrou rancor, revolta, mágoa. Só agradecimentos, uma disposição de ajudar o próximo sem receber nada em troca e uma bondade que eu ainda não tinha visto numa única criatura em toda a minha vida! Ela nem falou que tem sido rotineiramente espulsa de algumas casas quando vai pedir voto.

Foi essa a razão que me levou a casa da candidata hoje, pela manhã. Soube que ele tem sido maltratada ou expulsa de algumas residências no trabalho dela de campanha. Ela não falou desse assunto. Mostrava otimismo, agradecimentos e vontade de ser vereadora de Poção de Pedras.

Jerlândia não filhinha de papai, não é mulher de grã-fino, é uma mulher de um coração enorme que cabe todos os moradores de Poção de Pedras e que só pensa em usar o mandato para ajudar os pobres, os enfermos, os necessitados, ou como ela diz: "A pobreza".

Jerlândia em frente a sua casa na Vila Borges

São onze vagas, não tem como colocarmos a Jerlândia dentro de nossa Câmara? 


Então eleitores pensem bem nesse nome que vai crscer:

Jerlândia Jerlândia  Jerlândia  Jerlândia...

E se Jerlândia se eleger a vereadora, estou desde hoje convocando o nosso cineasta Cícero Filho para filmar a biografia dessa guerreira.

EMPREGUETES: Vídeo com uma música de Jerlândia. Essa música foi composta por uma jovem do Poeirão. Está baseado no sucesso do momento, As Empreguetes. Jerlândia também foi empregada doméstica. Assista: