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 Mais uma crônica do médico que segue na linha de frente de combate ao Covid-19 

"Outro drama dos bastidores da linha de frente do Covid é o lado humano e frágil dos médicos. Quantos de nós não já morreram? No MA já perdemos os maiores expoentes das várias áreas médicas, nossos decanos, os famosos "medalhões". Alguns ainda estão entubados em UTI's. Outros enfurnados em casa com medo.

Mas o que me chocou mesmo essa semana foi a  história do Dr. Antônio e sua mãezinha.

Conheci Dr. Antônio num plantão de UTI;  ele na enfermaria, foi me consultar sobre um paciente dele que piorou para eu levar para a UTI. Jovem, jeito acaboclado, meio cafuzo, fala pra dentro e caipira, andar da roça. Nos demos bem. Dois matutos se entendem.

Logo já estávamos juntos na bancada de computadores animadamente falando de nossos pacientes, qual grave qual melhorando.

E falo eu de uma senhora  que estava bem e agravara potencialmente. 

Antônio fixa o olho no chão, pára e triste me diz: "igual foi com minha mãe. Está com 05 dias que perdi minha mãe." 

E cai num choro compulsivo e muito sofrido. 

Eu me emociono e também choro.

Levanto e lhe abraço.

E ele me faz ouvir no seu celular o último áudio dela enviado a ele: a voz de uma velha cabocla analfabeta falando cansada pela doença, dizendo ser o filho orgulho da vida dela e que não se preocupasse porque ela estava melhor. E agradecia pelo celular dela, presente último do filho a ela. A típica voz da lavradora sofrida mas feliz pelo filho doutor;  voz aguda, cantada, fala errada, doente, mas feliz.

Antônio soluçava fundo e me disse que não viveria o luto de Dona Eva em casa. Viveria na linha de frente de combate ao Covid, pois para ele esta é a melhor forma de homenageá-la.

Mais uma vez o abracei. 

E ele dessa vez sorriu e me disse: "mas tá doendo muito, viu, Dr. Allan?!..."

Por  Allan Roberto Costa Silva, médico e escritor

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3 Comentários

  1. Que coisa linda. Mais que um médico esse Dr. Alam. É um herói.

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  2. Um texto emocionante. Espero que realmente sejamos capazes de abraçar nosso irmão que sofre.

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