Ele é adolescente, morador de Pedreiras, desejava uma moto e estaria disposto a matar para realizar o desejo...
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Atualizada para correções e acréscimos às 22h00
Ele é um adolescente aqui da
nossa região, mora na cidade de Pedreiras, 16 anos de idade, já tem uma histórico de arrepiar. Infelizmente,
abandonou a escola cedo e comete furtos e assaltos desde o tempo que era criança. Já
esteve preso uma penca de vezes, mas seguindo o ritual jurídico/policial, no dia seguinte era
posto em liberdade.
Poucos dias atrás, ele passeava em um povoado, onde seus familiares têm parentes. A comunidade fica entrelaçada
entre Trizidela do Vale e Bernardo do Mearim. Final semana com a família,
descansando, tudo tranquilo... Antes que à noite viesse, os pais voltaram para
Pedreiras de carona. O adolescente ficou. Ele não queria voltar de carona. Tinha
planos para executar. Escureceu, ele pegou a estrada a pé. Caminhou no meio da
poeira, ouvindo os sussurros da mata e sentindo o vento da noite; em um trecho, encontrou o que
procurava, um pedaço de madeira, cerca de um metro e meio, bem espeço, firme, serviria
para seu maquiavélico intento. Seguiu a caminhada na empoeirada
piçarra até estancar próximo a uma pequena barreira, coroada de
vegetação. Era o que ele também precisava. Subiu na elevação e, como uma torre
de vigia, poderia ficar de tocaia, observando quem passava pela estrada, como cobra
prestes a dá o bote.
Em poucos minutos, o farol
de uma motocicleta brilhou a certa distância. Ele apertou a madeira por entre
as mãos e o sangue ferveu com adrenalina. Iria agir em menos de um minuto. Estava
preparado. No entanto, o ânimo não demorou a esfriar. Um vaqueiro corpulento
conduzia a Bros. Ficou indeciso e recolheu-se no escuro das folhagens. Observou tão somente a poeira da
Bros levantar. “Tenho que achar um mais fácil”, ponderou consigo mesmo no esconderijo, agindo como uma espécie de bicho que surge à noite procurando presas fáceis para se alimentar.
Passou-se mais dez minutos,
o farol de motocicleta voltou a alumiar a escuridão. Novamente, o adolescente
se armou com o talo pesado e robusto que tinha nas mãos. “Quando a moto estiver
passando bem perto, eu pulo e derrubo o cara a pancada. Tenho que acertar a
cabeça para não dá tempo dele reagir”, arquitetava.
Entretanto, mais uma vez precisou
recolher-se a escuridão de sua moita. Dois homens estavam na moto. Ele não era burro para determinar que
sozinho teria poucas chances.
A moto passou e, igualmente,
deixou um rastro de poeira na estrada piçarrada. Uma angustia, mesclada com solidão, subiu o
peito do adolescente. “Preciso de uma moto, quero voltar pra casa de moto,
custe o que custar”, dizia para si mesmo, como uma criança orando fervorosamente a Deus, no pé da
cama, pedindo uma bicicleta de presente.
Mal terminou de falar
consigo, ouviu o motor de motocicleta troando à distância. Ela se aproximava em
velocidade mais reduzida. O adolescente ergueu-se do esconderijo, desejoso que
dessa vez ele teria a oportunidade de agir. Há Cerca de 20 metros, confirmou
que a moto estava sendo conduzida por uma mulher. Era sua chance. Segurou o
porrete e ficou na descida da pequena encosta, em posição de ataque.
Continua...
A condutora trafegava em
meio à escuridão, distraída, morava na região e conhece cada palmo daquela
estrada. Vários conhecidos já tiveram motos tomadas de assaltos naquela estrada, porém, nunca tinha sofrido assalto. Deveras, foi com grande surpresa, mesclada com
sentimento de horror que ela viu um homem sair da escuridão, pular a sua frente, armado com um
pedaço de pau. A condutora freou a moto, disposta a não reagir e entregar o
veículo numa boa. Porém, ela não teve essa possibilidade. O agressor foi logo lhe
acertando a nuca com violência, como se estivesse num matadouro, abatendo um
boi. Ela caiu da motocicleta e o adolescente ainda a atingiu duas vezes.
A mulher apagou, caiu na poeira sem os sentidos. O adolescente largou o porrete, subiu na motocicleta e saiu sem rumo. Em menos
de cinco minutos, a vítima do assalto foi socorrida por ocupantes de uma picape que trafegava pela estrada. Ela é bem
conhecida na região, preside uma associação comunitária. Não demorou para a
notícia correr os povoados circunvizinhos. O marido da condutora agredida e
assaltada chegou ao local, onde ela estava recebendo os primeiros socorros; quando
foi informado do que tinha acontecido a sua mulher, o homem ficou completamente transtornado. Embora
a esposa estivesse fora de perigo, se recuperando e contando com detalhes o que
tinha lhe sucedido, o marido não deixaria o malfeitor livre de uma grande e severa punição. Arregimentou uma tropa de motoqueiros, uma boa parte
maquinados, e saíram a caça do bandido.
O adolescente não conseguiu ir
muito longe, a motocicleta estava na reserva e começou a estancar. Parou em
povoado, tirou a camisa, empurrou a motocicleta em direção a um comércio e
perguntou por combustível. O proprietário e alguns clientes acharam as atitudes
do jovem forasteiro estranhas, e reconheceram a moto como sendo a da presidente da
associação. Em vez de responder a indagação de combustível, começaram a interrogar
o estranho adolescente e ele, nervoso, não falava coisa com coisa.
“Essa moto é da dona... o
que você faz com ela? Por acaso tu roubou ela”, indagavam com olhares desconfiados.
“Não, tô só fazendo uma
viagem pra ela, já tô voltando”, explicava o bandido mirim, porém, sem convencer
ninguém.
“Rapaz, tu não é filho do
seu.... lá de Pedreiras”, perguntou outro.
“Não, não, nem sei quem é...”,
respondia o menino completamente nervoso.
A conversa foi curta, porque
logo se ouviu o estardalhaço proporcionado por dezenas de motocicletas
adentrando o povoado, que lembrava os tempos de comícios. Era o marido da mulher
agredida que chegava com sua tropa ensandecida, todos sedentos de fazer justiça com as
próprias mãos.
“Lá está o marido da dona da
moto; a história vai ser confirmada agora por ele”, disse um dos clientes.
O adolescente amarelou. Sentiu
a própria existência ameaçada. Em um lance rápido, motivado pelo sentimento de
pavor, correu em disparada por entre casas de barros, quintais, poços,
criações, cachorro latindo e conseguiu chegar ao mato. Os homens que chegaram
em comboio, notaram a ação do jovem, evidenciando uma fuga e concluíram que se tratava do malfeitor da estrada. Ato
contínuo, largaram as motocicletas e foram atrás do acusado. Como cães ferozes
atrás de uma lebre, perseguiram o adolescente em um mato sem fim durante
uma noite escura. A presa, que lutava pela sua vida, conseguiu ser bem mais ágil;
subiu e desceu morro até desaparecer completamente na zona rural de Trizidela
do Vale.
Os homens retornaram ao
povoado de mãos vazias, recuperaram a moto e a camisa do bandido. Contaram a
história no bar e um dos clientes ajudou na identificação do bandido.
“Se eu não me engano, eu sei
quem é ele, quem são os seus pais e onde eles moram em Pedreiras, só não tenho
certeza se é realmente ele...”, disse.
De posse das informações, a
turba correu à Pedreiras, ávidos pela vingança, sentindo anseio pelo sangue.
Em uma rua periférica da
cidade, mais de 20 homens se amontoaram em frente uma pequena casa. Bateram a
porta e uma senhora os atendeu, assustada.
“Boa noite, os senhores
querem alguma coisa”, perguntou-lhes.
O marido da mulher agredida
usou de um estratagema.
“Senhora, parece que aconteceu
um acidente com seu filho, essa aqui é a camisa dele?!”
A mulher olhou a camisa com expressão
de assombro e começou a soluçar, confirmando.
“É Sim, é a camisa dele, é a
camisa que ele estava vestindo hoje no povoado... O que aconteceu ao meu filho,
me digam, ele morreu? Por favor em nome de Jesus, me contem”, clamava a senhora emocionada de tal modo que desarmou o ânimo assassino da legião de homens que cercavam sua
humilde casinha.
O marido da vítima suspirou
fundo, a raiva, o ódio que o consumia se esvaiu e contou o que o filho dela fez
a sua esposa. E a dor da mãe pela vergonha do que fizera o filho continuou tão
aguda como o sentimento de perdê-lo em um acidente. A senhora esvaiu-se em desculpas pela perversidade do filho.
Como não havia mais o que
fazer, os homens desistiram de fazer justiça com as próprias mãos e retornaram para
casa e para suas vidas. O marido contou a esposa agredida quem era o autor e
para sua surpresa, ela o conhecia. Surpreendentemente, a mulher agredida, ficou
penalizada com a família do rapaz e fez o marido jurar que não procuraria vingaria.
Ela o perdoou da tentativa de homicídio e o marido concordou com ela.
No meio da madrugada o adolescente
apareceu em casa. Não era mais uma ser humano, mas um trapo de gente. Apesar do
rancor, a mãe ficou penalizada. O filho estava com o corpo lapidado de cortes,
mordidas e arranhões sofridas no matagal. Depois de cuidá-lo, o pai do jovem o
entregou na delegacia, nas mãos do delegado, no raiar do dia, temendo pela vida
do filho.
Não sabemos em que situação
ele está hoje, será que o protagonista da nossa história já foi solto?
2 Comentários
Pura babaquice.
ResponderExcluirCarlinhos, agora vai ser assim? contos, contos...
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