Eleições em Poção de Pedras são marcadas por misticismo

Um detalhe intrínseco relativo a Poção de Pedras chama atenção. Nesta cidade, o misticismo é fortíssimo quando se trata de eleições. Um padrão, uma crença, um tabu são levados a sério e debatidos com toda a importância científica nas rodas políticas, tomando proporções de verdades absolutas, incontestáveis...

No inicio de nosso trabalho no Blog do Carlinhos, me surpreendia com o fato dos meus irmão poção-pedrenses levarem a sério essa prática tribal nas eleições. Um exemplo, meio batido, mas que precisa ser citado, que estava aferrado às cabeças dos eleitores de Poção de Pedras era que o grupo político que recebesse o apoio do ex-prefeito Dr. Cristóvão vencia as eleições. A briga era feia para conquistar o apoio de Cristóvão, baseado nesta crença. Os eleitores de Poção de Pedras tinham isso na cabeça: “Dr. Cristóvão nunca perdeu uma eleição, o grupo que ele apoia sempre ganha”, diziam.

Cristóvão decidiu apoiar o grupo do então prefeito Gildásio, e os eleitores do prefeito saíram às ruas para comemorar a vitória antecipada. No entanto, a crendice, nesse ponto, não superou a realidade. Gildásio perdeu com larga diferença para Cascaria e aquele famoso tabu foi atirado ao chão.

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Semelhantemente, havia outra crendice em Poção de Pedras que afirmava que “O Grupão”, grupo onde estavam concentradas as maiores lideranças, nunca perde a eleição. Esse sortilégio também foi colocado em xeque depois da derrota do então prefeito Gildásio para Cascaria.  O grupão apoiava Gildásio e perdeu para Cascaria. Mas até ali, teve poção-pedrense que apostou motos, carros, terrenos, casas, em Gildásio acreditando, confiando na crença. Como pode observar, as crenças no misticismo em Poção de Pedras relacionado à política é diferentes de outras cidades.

O Blog identificou mais uma mística criada em Poção de Pedras depois do pleito realizado no dia 5. Eleitores dos dois grupos políticos estão acreditando que Cascaria vai perder a reeleição, caso ele dispute, porque conquistou a maior votação para seus candidatos a deputado no município, onde ele governa. Os poção-pedrenses desenvolveram essa mística fazendo o estranho paralelo entre o prefeito Gildásio e o prefeito Cascaria: “Gildásio, quando era prefeito teve a maioria dos votos para deputado, mas perdeu reeleição para prefeito. Então, o Cascaria não tem para onde correr, é a lei. Como prefeito ele ganhou para deputado e por causa disso ele vai perder para prefeito, porque foi assim com Gildásio”.

É ou não é uma crença mística escondida atrás desse entendimento da política?

Não estou aqui para defender Cascaria e nem para diminuir o ex-prefeito Gildásio, no entanto, o assunto é interessante para discutimos à luz da realidade.

Vamos criar um mundo hipotético onde o Carlinhos do Blog quer ser prefeito de Poção de Pedras. “Eu quero me eleger prefeito de Poção de Pedras e já sei de tudo o que tenho que fazer para ser bem sucedido. Não quero apoio do Tubarão e nem do Grupão, eles já mostraram na última eleição que dão azar. E caso eu consiga me eleger, ‘deusulivre’ que os meus candidatos a deputados tirem mais votos em Poção de Pedras. É 100% de certeza que não me reelejo. Essas orientações estão contidas nas estrelas que cobrem o céu de Poção de Pedras”.

Voltando para a realidade nua e crua: um prefeito que busca com seriedade a sua reeleição, o primeiro passo é transferir a maioria esmagadora de votos das urnas do município para seus candidatos, a deputado estadual e a deputado federal. É uma forma de mostrar a população que ele tem votos e está forte para o pleito de 2016. Mas, em Poção de Pedras, os crédulos acreditam no contrário, porque houve um padrão nas eleições de 2010. Naquela o prefeito ganhou e perdeu a prefeitura e, portanto, nesta, o prefeito ganhou e terá que perder também a prefeitura em 2016.

O que vale em Poção de Pedras é a crença nesse tipo de padrão. Vale, inclusive, a aposta. Ninguém menciona que depois de conquistar a maioria dos votos para seus candidatos em 2010, Gildásio pode ter baixado a guarda; não deu os devidos créditos ao candidato que estava aparecendo na cidade, um certo poção-pedrense, que fez riqueza no Pará. Esqueceu-se de ajudar aliados que se esforçaram nas duas eleições... Não, ninguém culpa o Gildásio de ter perdido a prefeitura depois que ganhou para deputado. Ele não tem culpa, é o padrão. Prefeito que ganha para deputado em Poção, perde a eleição.

Há outras crenças em nossa política envolvendo eleições, Prefeito em Poção de Pedras não se reelege... perto da eleição, aliados do prefeito saem em debandada para oposição e assim vai.

A política de Poção de Pedras é ou não é recheada de crendices?

CRENDICES

Eu era um adolescente. Estávamos numa mesa redonda na cozinha da casa da minha madrinha, esperando a chegada da minha mãe que vinha das intermináveis e emocionantes apurações nominais das eleições de Poção de Pedras que eram realizadas em Esperantinópolis. No lado de fora, o foguete comia solto e acendia a escuridão da noite. Uma tristeza angustiante subia na garganta da gente. É ruim perder uma eleição. Todos já sabiam que o nosso candidato perdera as eleições. Minha mãe chegou muito atarantada.

- Comade, foi a maior luta do mundo para gente passar de carro pela Rua Sarney! Gente, comade, muita gente do Dr. João comemorando e não deixando os carros passar. Eles estavam querendo achar o carro do Bebé, mas o Bebé passou escondido no meio de dois, no banco de trás. O Santos, ali do comércio, estava louco, era o mais louco de todos; ele pulou em cima do nosso carro, fazendo gestos, tentando abrir a porta, gritando que ganhou, que ganhou.

Minha madrinha riu de leve.

- Cumade, senta aqui e tome um café que eu já preparei, porque a noite vai ser longa. Eu já sabia que Dr. Vilberto perdia esta eleição. Todo ano acendo velas, uma vela é para o Dr. João e a outra era para Dr. Vilberto. A primeira que apagava era o candidato que perdia. Eu já gastei mais de dez caixas de velas e todas elas, as primeiras que se apagaram, foram as do Dr. Vilberto. Olha no chão do quarto, comade, a única que ainda tá acesa depois de não sei quantas horas que a outra se apagou é a do Dr. João. E ele ganhou as eleições.

Sentado a mesa, eu dirigi o meu olhar para a porta do quarto e, assustado, vi as chamas de uma vela solitária, encandeando as paredes. Senti um arrepio na espinha...

Heita vela difícil de se apagar, meu Deus!!!