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Atualizada às 20h25

Encontrei o prefeito em um dos bares da Avenida Litorânea. Faltavam alguns meses para as eleições de 2014 e ele queria me apresentar um amigo que entraria na disputa pela vaga de deputado estadual. O prefeito estava sentado sozinho, tomando um chope, o amigo era aguardado...

“Prefeito, você tá um caco, olhos vermelhos, inchados, parece que andou fumando um beck”, comentei sorrindo, sentando à sua frente.

Ele forçou um sorriso e começou a falar com a voz ainda rouca.

“Meu amigo, foi à noite de ontem, ainda não dormi, a noite acordado e o dia viajando pra cá, para São Luís”, respondeu, preguiçoso.

Ergui o braço e olhei o relógio, era precisamente 19h45.

“O que aconteceu?”, indaguei.

“Fui na festa de ontem, no JB Club de Lago da Pedra. Pense numa festa boa”, comentou sem muito ânimo na voz, olhando a própria mão, como se sentisse um tipo de asco.

O garçom  colocou o menu em minha frente e, enquanto examinava as bebidas, indaguei.

“O senhor foi naquela festa pesada, não sabia que gostava desse tipo de festa”, disse-lhe e pedi uma caipirinha com vodca.  

O prefeito me encarou, surpreso, como se eu tivesse sussurrado uma blasfêmia.

“Se eu gosto?!! Eu amo, rapaz, tu não faz ideia como a festa foi boa. Gente, muita gente! Cheguei lá, sabe como é, o Júnior Bala, o dono, é meu peixe, não enfrentei fila e fiquei num local junto com o povo, mas um pouco afastado e com uma mesa pra mim. Estava só eu e o meu motorista, mas lá, o que mais tinha era gente da minha cidade. Toda hora tinha que acenar a mão ou levantar para cumprimentar meus eleitores. Botei um litro de uísque na mesa e comecei a beber”, explicava ele.
Continua...


“Bom demais! Com a cabeça cheia de uísque e no meio de uma festa você nem se lembrou dos problemas da Prefeitura”, brinquei.

O prefeito fez um olhar azedo.

“De jeito nenhum, graças a Deus, só queria me esquecer que era prefeito naquelas horas, curtir a noite e me divertir pra valer! Meu amigo, foi bom! Nem te conto o que aconteceu”, dizia.

“Fala ai prefeito, rolou algo de bom no JB”, perguntava, enquanto recebia das mãos do garçom o meu copo de caipirinha. Ao fundo se ouvia a mescla da música Eva e ondas quebrando na praia.

O prefeito se animou a falar, estava tão desejoso de expor as peripécias da noite anterior que sequer solicitou-me sigilo.

“Estava eu numa boa, tomando o meu Old Parr puro, gelado, mas sem gelo, como eu gosto, quando percebi uma mulher linda na mesa ao lado. Ela estava com um grupo de amigas, tinha um cara lá, mas era quatro meninas, cada uma mais bonita do que a outra, o cara não estava com nenhuma, todas disponíveis e percebi que a mais bonita estava com os olhos grudados em mim. Cara, eu fiquei animado. O corpo de sereia, esculpido mesmo, calça jeans apertada, pernas grossas, barriguinha de fora, bronzeada, coisa linda; uns 27 anos e perfeita. Percebi que não era de Lago da Pedra, conheço o meu gado, essa região onde moramos não tem mulher daquele porte, loira, corpaço, me lembrou muito a Carla Perez do tempo do “É o Than”, tu se lembra?”

Ergui os ombros, espantado...

“Sim, sim, claro que me lembro da Loira do Than, continua a história, prefeito”, disse logo.

O prefeito sorveu um bom gole de cerveja e prosseguiu o relato.

“A mulher não era mesmo daqui, era de outro mundo, de Vênus e não tirava os olhos de mim; eu que estava sentado à mesa, na mesma hora fiquei de pé, me senti melhor ainda, abrir um sorriso e decidi paquerá-la de longe.”

“Como assim?”

“Comecei a sorrir pra ela, fiz gestos com os olhos e a mulher na mesma hora respondeu com sorriso só pra mim. Cara, foi muito gostoso! Namorar é bom demais! Lembrei-me do tempo de estudante. Eu estava paquerando. Sou muito bobo, passei a mão no rosto para me certificar que não estava sonhando, graças a Deus era pura realidade. A mulher não tirava os olhos de mim e sorriu, quando me viu passando a mão no rosto. “Essa é minha”, eu disse pra mim na mesmo hora. Depois de alguns minutos naquela linguagem corporal, ela começou a fazer gestos com o rosto, insinuando para eu me aproximar”, dizia o prefeito.

“E você se aproximou”, indaguei, completamente alucinado com o relato.

“Tu é louco, cara, com o JB lotado de gente, uns cem só lá da minha cidade! Eu seria o comentário do dia seguinte e a minha mulher me esfolaria vivo”, retrucou.

Eu sorri com ironia.

“Então, ficou só mesmo nos olhares”, comentei e ri na cara dele.

O prefeito me olhou de cima.

“Tu é que pensa, parece que não me conhece. Na mesma hora armei um plano infalível. Mandei o motorista se aproximar da mesa das mulheres e puxar conversa com a loira do Than. Explicar-lhe a minha situação, que eu sou prefeito, tinha gente me olhando, essas coisas e marcar um encontro comigo no final da festa. Tinha certeza que ela aceitaria. O motorista, que acompanhava o meu namorico me ouviu e se aproximou da mesa das mulheres, como que não quer nada; chegou até a loira e começou a conversar com ela. O som do show era alto e ele falava-lhe bem perto do ouvido, ela mostrava muito atenção depois de algum tempo, os dois começaram a sorrir. Ficaram conversando, conversando e eu morrendo na minha mesa, bebendo uísque alucinado, querendo saber o que estavam conversando e se deu certo. Já tava até ficando com raiva da porra do motorista, mando ele levar um recado e fica batendo papo com a minha gata, enquanto eu sozinho na frente do JB Club inteiro”, esbravejava o prefeito.

“E o que aconteceu?”

“O motorista voltou e começou a falar diante de um homem que tava com o coração na mão; ele disse simplesmente que a loira aceitou se encontrar comigo no final da festa e que entendia perfeitamente a minha situação delicada de prefeito. Daquela hora em diante eu já queria era que a festa terminasse, mas não era nem meia noite. Pensa numa coisa chata, você ficar regando um negócio desse tipo durante horas, quando bastava ela se encontrar comigo em meu carro no estacionamento e procurarmos um lugar aconchegante.”

“E ai...?”

“Foi o jeito, a loira, da mesa dela, e eu, na minha mesa, até diminui o uísque para não ficar bebo demais e estragar o encontro. Mandei uma garrafa para a mesa das gatas, queria que ela sentisse a pressão. O garçom colocou o litro de Old Parr na mesa das moças, elas perguntaram quem tina mandado e ele me apontou. A Loira se virou completamente pra mim, abriu um sorriso, ergueu os punhos na altura dos quadris e fez um gesto positivo com as mãos, abrindo um sorriso maior ainda. Juro, juro por Deus que por pouco não botava a minha vida a perder, porque me veio a vontade de ir até ela, derrubar tudo que estava em cima da mesa para colocar ela e realizar o meu desejo na frente de três mil pessoas."

"Acho que você já tava era bebo", comentei.

No entanto, o prefeito não deu atenção ao meu comentário, narrava os fatos vivenciados por ele na noite anterior.

"...Os minutos passavam, as musicas se alternavam, a multidão dançava, cantava com as bandas, e nós trocávamos olhares, sorrisos... eu até ensaiava uns passos e ela, de lá também, como se dançássemos juntos. Aparecia uns caras desses tipinhos de academia, todo saradão, convidando ela para dançar, mas a mulher recusava. Com certeza para não me deixar enciumado, aquele noite ela era todinha minha”, contava ele.

“Prefeito, essa história está muito longa, vamos logo para os finalmente, vocês se encontraram no final do show”, perguntava-lhe.

“Sim, com certeza. Deixei tudo arquitetado com o meu motorista para levá-la ao meu carro, enquanto eu ia ao banheiro. Na volta, procurei a minha Hilux. O carro estava ligado, a mulher já estava, providencialmente, no banco de trás. Entrei, movi o retrovisor e encontrei os olhos verdes dela, lindos, emoldurados por uma pele branca, coisa de doido! Dei boa noite e ela me respondeu com uma voz linda com seu "boa noite", já na madrugada de hoje. “Umbora embora, motorista”, eu disse”.

“Éguas, prefeito...”

Ele fez uma nova careta como se algo tivesse dado errado.

“Eu nem te conto, quando o carro andou meio metro, um “fi do cão”, viado sem vergonha, lá da minha cidade, apareceu batendo com força no capô da Hilux. “Eu vou contar pra primeira – dama,  eu vou contar tudo pra primeira – dama,  eu vou contar pra primeira – dama”, gritava ele, esmurrando o capô.

Engoli seco, assustado com esse detalhe inesperado na narrativa do prefeito.

“E o que aconteceu?”

“Ficamos no carro parado, sem saber o que fazer até que o motorista me orientou: “Essa bicha quer dinheiro, prefeito?” Eu concordei com a cabeça. Meu irmão, era o viado mais desbocado da cidade e, ainda por cima, ele não estava nem um pouco preocupado com a primeira – dama, o infeliz nem votou pra mim. Entendi o que ele queria com aquelas ameaças. Desci do carro, me aproximei do baitola. “Meu amigo, que bom te ver aqui, não faça isso com teu amigo e conterrâneo, eu tenho aqui um presentinho pra você”, meti a mão no bolso, toquei em um maço de cédulas e extrai uma "onça pintada" e ofereci a ele. A porra do viado, com a cara pintada, borrada, camisa mostrando a barriga de miséria, gritou foi alto pra cima de mim, achando o dinheiro pouco. “Cinquenta reais?! Ver se eu tenho cara de fome, prefeito! Eu quero é R$ 150,00 reais para não sair daqui agora e ir direto à tua casa, contar essa história para a primeira – dama que você saiu da festa com uma pireguete””.

“Vixe, maria, prefeito, o senhor pagou?!

Ele fez um gesto afirmativo.

“Na mesma hora, puxei mais duas onças e dei para aquele viado que nem em mim volta. A miséria virou as costas pra mim e saiu de salto alto, alegre e satisfeita, sem nem dizer obrigado. Deu-me uma vontade de dá um chute naquela bunda desgraçada, mas voltei para o carro, onde estava o meu prêmio e consolo”, disse.

“Certo, e depois disso, ocorreu tudo tranquilo?”

“Fomos para um motel perto, pedi o melhor quarto, o motorista ficou no carro, descansado; a sós, a coisa começou a rolar rápido, sem muitas conversas e apresentações, a loira começou a me beijar o rosto, morder minha orelha ao mesmo tempo que se despia; eu a abracei de frente e não resisti, agarrei com força a região glútea da loiraça”, contava o prefeito.

“Já até imagino o final”, falei.

Novamente o prefeito fechou a cara como se algo tivesse dado errado.

“Foi à noite mais decepcionante da minha vida...”

“Prefeito, não me diga que a loira era um travestir...”

Ele fez um gesto negativo e um rápido sinal da cruz.

“Tu é doido!!! Nada, era mulher mesmo. 100% mulher. O problema que era toda siliconada. Quando eu apertei os glúteos dela, aquele plástico, ou sei lá o quê, começou a deslizar dentro da pele dela, passando pelas minhas mãos. Deu-me foi um arrepio na espinha. O pior foi que eu não conseguia parar de apertar aquele silicone, sentido ele nas minhas mãos. Meu amigo, quem disse que eu funcionei... Aquilo apagou meu fogo de vez naquela noite. E a vergonha que passei?! Já pensou a loiraça pelada diante de mim, dentro de um quarto, havia passado horas se guardando para mim e na hora H eu bati o motor..."

“Meu Jesus do Céu”, exclamei, como sentisse na pele o constrangimento que passou o meu amigo prefeito.
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7 Comentários

  1. Carlinhos gosto muito de seu jeito dinâmico de descrever os fatos.porem esse novo contexto que você esta implantando é muito fraco,ele se configura com muito suspense.Um abraço.

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  2. Bem feito pro prefeito. Isso foi castigo por ter tentado trair a esposa. Deus nao dorme.

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  3. Acho que consigo imaginar quem foi o prefeito.

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  4. Acho que consigo imaginar quem foi o prefeito.

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  5. prefeito: Valdemar da Serraria ..motorista: Ilto da Dora...rsrsrs

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  6. Acho que esse prefeito traçou o traveco também, e ainda levou pra tirar ressaca em São Luis.

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