Brasil, o país em que os juízes tomaram o poder
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Do El País
Condenação de Lula e o
processo contra Temer mostram como procuradores e magistrados dominam a vida
política
A recente condenação por
corrupção contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a última. Virão
outras. O Brasil é um país asfixiado pela corrupção no qual pulsa um conflito
com ares de guerra declarada entre o poder político, um estamento insolitamente
corrupto, e o poder judicial, insolitamente incorruptível. Nos últimos anos,
foram presos centenas de ministros, governadores, deputados e senadores, e até
o presidente Michel Temer carrega uma denúncia por receber subornos. O campo de
batalha são as investigações da Lava Jato, dirigidas por pelotões de juízes,
procuradores e tribunais em diferentes instâncias. E depois de três anos
desentranhando a rede de desonestidades de quase toda a classe dirigente, a
frente chegou à medula do Governo. “É um momento inédito”, avalia Bruno
Brandão, representante da Transparência Internacional no Brasil. “Desconstrói a
narrativa de que as elites são impunes.” Agora já não vale aplaudir enquanto os
procuradores acusam escalões inferiores. Já não há reconciliação possível. É um
bando ou outro.
O copo transbordou nas
últimas duas semanas, enquanto o país passava por tristes fatos históricos.
Pela primeira vez, um presidente, Michel Temer, era denunciado por corrupção
pela Procuradoria Geral. Na quarta-feira, dia 12 de julho, Luiz Inácio Lula da
Silva se tornou o primeiro ex-presidente condenado a prisão por lavagem de
dinheiro e corrupção: nove anos e meio de prisão, segundo uma sentença da qual
poderá recorrer a uma segunda instância enquanto segue em liberdade.
Lula e Temer não podem estar
mais afastados politicamente, mas os dois reagiram da mesma forma a seus
problemas legais: “O que me deixa indignado é que você está sendo vítima de um
grupo de pessoas”, protestou o primeiro, enquanto questionava a autoridade dos
juízes: “Só o povo brasileiro pode decretar meu fim”. Também Temer, na primeira
vez que falou em público depois de saber da denúncia contra ele por supostas
trocas de favores e subornos, partiu para a ofensiva: “Isso é um atentado
contra nosso país. Não vou permitir que se questionem nem minha honra nem minha
dignidade. Não fugirei das batalhas”.
Mais em continua...
O presidente cumpriu sua
ameaça, quando coube exatamente a ele nomear o novo procurador geral — o atual,
Rodrigo Janot, que o denunciou, deixa o cargo em 17 de setembro. No Brasil, o
presidente costuma respeitar o nome mais votado pelo próprio Ministério
Público. É uma demonstração de respeito em relação à força e à independência da
instituição. Temer, por sua vez, escolheu a segunda pessoa mais votada, Raquel
Dodge. O gesto não muda muita coisa — Dodge tem grande experiência no combate à
corrupção —, mas se tratava de dar um aviso aos que pudessem acreditar que o
país está nas mãos dos juízes.
A última cartada
Muitos opinam que Temer
também esperava enfraquecer a denúncia de Janot antes que esta seja votada no
Congresso em 2 de agosto. Se a Câmara a aprovar, a denúncia irá ao Supremo
Tribunal Federal (STF), que o destituirá temporariamente. E se o considerar
finalmente culpado, o destituirá para sempre. Além da presidência, perderia o
foro privilegiado e então teria de responder por todas as acusações que os
procuradores fizessem contra ele. A única solução para Temer é resolver a
acusação no âmbito político, custe o que custar.
A presidência — e a
imunidade jurídica que outorga — representa também uma solução desesperada para
Lula. Ainda é preciso publicar outras quatro sentenças e basta que a segunda
instancia considere-o culpado em uma delas para que seja inabilitado
politicamente e, talvez, acabe na prisão. A única cartada do dirigente do
Partido dos Trabalhadores é que se atrasem os procedimentos até agosto de 2018,
quando começa a campanha eleitoral. E rezar para vencer as eleições
presidenciais.
O panorama não poderia ser
mais diverso do que foi o Brasil durante séculos. Um lugar no qual o poder e o
dinheiro mandavam mais do que a justiça, onde o rouba mais faz era um elogio
para um político, e onde o procurador geral era conhecido como engavetador
geral.
Tudo mudou em 2003 com a
chegada, ironicamente, de Lula. “A polícia passou a ter o dobro dos recursos e
pessoas e virou uma instituição capaz de fazer grandes operações. Permitiu que
o ministério público nomeasse o procurador geral. Unificou o poder judiciário,
que era muito disperso”, relembra Pierpaolo Bottini, advogado que participou
dessa reforma no Ministério da Justiça.
Aos poucos começou a
florescer um orgulho de classe. “Se há uma característica que define o Brasil,
crise após crise, é a independência de seu poder judiciário”, vangloria-se por
telefone José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos
Procuradores da República (ANPR).
Mas no Brasil a corrupção
está há décadas incrustada na vida pública. Revelá-la paralisou tudo. A economia
está em crise, a política gira em torno dos tribunais e o povo perdeu a
esperança de que tudo fique melhor quando todos os culpados estiverem na
cadeia. “A nova e definitiva era é de substituição de pessoas pelas
instituições. Salvação, sim, sem salvadores”, afirma Ayres Britto, que foi juiz
do Supremo Tribunal nomeado por Lula entre 2003 e 2012. Um futuro com a classe
política atrás das grades, e que deixa a dúvida sobre quem liderará o país.
DOIS RIVAIS PARA DOIS DIRIGENTES EM APUROS
T.C.A.
Não há generais nem
comandantes nos atritos entre os poderes executivo e judiciário brasileiros,
mas há nomes próprios. No país há muito poucos que não conheçam Sergio Moro, o
juiz encarregado da Lava Jato em primeira instância e que encontrou em Lula a
tampa para sua panela. Tão famosa é a inimizade entre os dois que quando o
ex-presidente foi chamado a testemunhar perante Moro em 10 de maio passado o
encontro foi tratado como uma final esportiva, como um combate cara a cara
entre dois lutadores.
Antes do encontro, o juiz
Moro publicou uma mensagem em sua página de Facebook, na qual tem dois milhões
de seguidores. Pediu a eles que não fossem às ruas se manifestar contra Lula
para não criar confusão. Este, no entanto, convocou os milhares de membros de
sindicatos e do Partido dos Trabalhadores que se aglomeraram diante da porta
dos tribunais no fim do depoimento e transformaram o acontecimento em comício.
Leis e rua, duas formas de ganhar a mesma partida.
O presidente do Brasil,
Michel Temer, tem tido que se haver ultimamente com o procurador geral, Rodrigo
Janot, um veterano no campo jurídico curtido em cargos públicos e privados.
Muitos imaginam que a jogada que está fazendo com o presidente Temer ao
denunciá-lo por receber subornos é completamente política. Na verdade, ainda
tem indícios para denunciá-lo por duas outras acusações, mas está esperando que
seu capital político se esgote no Congresso.
9 Comentários
Não tomou nada. A classe política que tá falhando, e quando isso acontece, o poder moderador tem que agir.
ResponderExcluirNada haver o Tema do post com o que se revela nas entrelinhas. O correto seria, "Emfim o judiciário Brasileiro faz cumprir as Leis". Sua Proposta de Tema soa meio politiqueira, parece achar ruim o fato do judiciário fazer cumprir as leis!!!
ResponderExcluirMoço, esse blog é mais partidário que um militante do PT. Parece as matérias do TV Fama; pura fofoca.
ExcluirSe houver apenas dois lados, prefiro estar ao lado do juiz (acusado de autoritário) do que do político (acusado de corrupção). Mas, especialmente no Brasil, a inversão das coisas é estarrecedora: com a mesma intensidade com que muitas pessoas XINGAM os juízes, ADULAM (E IDOLATRAM) os políticos investigados.
ResponderExcluirMuito coerente seu comentário meu Amigo!!! Isso mostra o quanto sua visão está longe da loucura ideológica que se estende por esse país! Parabéns.
Excluirna verdade, os juizes estão usando o poder que tem pra botar muito politico corrupto na cadeia. estão fazendo o certo.
ResponderExcluirquando o judiciário condena um pobre por ter roubado para dar comida a sua família (não que isso justifique o crime) diz que se fez cumprir a lei, mais quando esse mesmo judiciário condena políticos corruptos responsáveis pela pobreza e fome no pais, militantes desordeiros e desocupados gritam e berrão pelas ruas que os juízes estão abusando do poder. o Brasil não é feito por militantes vagabundos e sim por trabalhadores, os mesmos trabalhadores que ergueram esse pais e hoje são violentados e privados de seus direitos.
ResponderExcluirNão, os juízes não tomaram o poder, simplesmente estão aplicando as leis que os políticos fizeram,mais quando fizerem não sabia que a lei vale pra todos!
ResponderExcluirBRASIL... UM PAÍS ONDE POLITICO BANDIDO TEM PUNIÇÃO!!!
ResponderExcluirÉ MUITA SACANAGEM UMA PESSOA DEFENDER UM BANDIDO