Juiz Marco Adriano Fonsêca participa de Seminário sobre os 130 anos da Abolição da Escravatura
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Como parte integrante da
programação do Seminário “130 Anos de uma falsa Abolição”, promovido pela
Fundação Municipal de Cultura do município de Pedreiras, o Juiz Marco Adriano
Ramos Fonsêca (1ª Vara) proferiu palestra aos alunos dos Colégios Zeca Branco (rede
municipal de ensino) e Correia de Araújo (rede particular), nas dependências da
Biblioteca Municipal Antenor Amaral (Palácio Municipal João do Vale), na última
terça-feira (29), ressaltando os antecedentes históricos da “Lei Áurea” e as
repercussões do movimento abolicionista em algumas revoltas populares.
Participaram do evento o
presidente do Centro de Consciência Negra de Pedreiras e Região do Médio
Mearim, Isael Sousa, e a presidente da Fundação Municipal de Cultura,
Francinete Braga, que também é Conselheira Estadual de Igualdade Racial.
Durante a apresentação, o
magistrado frisou a pressão internacional, especialmente da Europa, pela
proibição da continuidade de práticas escravocratas no Brasil Império, havendo
sérias ameaças de embargos ao comércio brasileiro no âmbito internacional, e
culminando na edição da Lei Eusébio de Queiroz (1850) - que proibiu o tráfico
de escravos transportados em navios negreiros -, a Lei do Ventre Livre (1871) -
que libertou as crianças nascidas filhas de escravas; a Lei dos Sexagenários
(1885) - que beneficiou escravos maiores de 65 anos, e finalmente o advento da
Lei Áurea, subscrita pela Princesa Isabel, em 13 de maio de 1888.
Continua...
No entanto, o juiz chamou atenção
dos alunos e professores participantes de que a abolição da escravatura não
veio acompanhada de ações afirmativas para inclusão dos negros
recém-libertados, expondo os escravos postos em liberdade a um processo de
marginalização social, não sendo inseridos no mercado de trabalho e sem
programas voltados para sua inclusão. “É impossível tratar da cidadania dos
negros brasileiros e da promoção de seus direitos humanos sem se percorrer os
nossos registros históricos. Tal discriminação ainda permaneceu bem marcante no
campo político, posto que os negros somente tiveram direito ao voto a partir de
1934”, pontuou.
O juiz também mencionou a questão
da inserção do negro na magistratura brasileira, segundo pesquisa
sociodemográfica do CNJ de 2013 demonstrando que, embora sejam maioria
populacional, menos de 15% dos Juízes do Brasil são negros, o que evidencia uma
falta de representatividade na cúpula de diversas instituições republicanas.
Diante desse cenário, o CNJ aprovou a Resolução 203/2015 estabelecendo a
reserva de 20%(vinte por cento) das vagas aos negros nos concursos públicos
para provimentos de cargos efetivos nos órgãos do Poder Judiciário, inclusive
de ingresso na magistratura, em todo o Brasil.
Para Isael Sousa, Presidente do
CCN de Pedreiras os debates atendem ao disposto na Lei 10.639/2013, que dispõe
sobre o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana no currículo
escolar. “Esse debate é importante porque destaca os povos tradicionais de
matriz africana”, avalia.
Segundo Francinete Braga, a
abordagem da temática dos 130 anos da Abolição da Escravatura permite a
construção de uma nova consciência da comunidade local, especialmente da cidade
de Pedreiras, por ser berço cultural e intelectual. “Somente a informação e a
educação permite o pleno exercício da liberdade. Importante destacar que a Lei
Áurea não foi acompanhada da adoção de políticas públicas, e na época,
paralelamente a isto, o Brasil iniciou um processo de incentivo à imigração de
Europeus, inclusive com subvenções, tais como patrocínio de passagens, reserva
de vagas de empregos, concessões de posse de terras, e inclusive concedendo a
nacionalidade brasileira, e não se percebeu a mesma preocupação com os negros
recém-libertados. Daí, o preconceito persiste ao longo destes 130 anos, sendo
necessário se escrever novos capítulos desta história”, declarou.
Ao final da palestra, o
magistrado destacou alguns maranhenses negros que se destacaram no âmbito
nacional, tais como a poetisa Maria Firmina dos Reis - primeira romancista
brasileira, natural de Guimarães e autora da obra “Úrsula”; e João do Vale, “O
Poeta do Povo”, natural de Pedreiras, reconhecido como “O Maranhense do Século
XX” e autor de clássicos da música popular brasileira como “Carcará” e “Pisa na
Fulô”.
Fonte: TJMA
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